Proteja seu filho do inverno

Gripe, crises asmáticas, alergias: saiba como agir para que as
crianças não sofram com a estação mais fria do ano
Com a chegada do inverno, a maior preocupação dos pais é deixar os filhos mais novos bem agasalhados e assegurar que os mais velhos não passarão frio ao saírem de casa. Mas somente estas atitudes não bastam para protegê-los dos perigos desta época do ano. Gripe, dermatite e conjuntivite, por exemplo, são alguns dos problemas de saúde que podem afetar as crianças de maneira mais intensa que os adultos, principalmente nas cidades grandes.

“Esta é a época do ano em que há menos umidade do ar e, por conta da temperatura, as pessoas ficam mais confinadas e mais aglomeradas”, afirma Roberto Tozze, pediatra do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Estes são alguns dos fatores que mais contribuem para que as crianças, principalmente as menores, sejam os principais alvos dos malefícios do inverno. “O aparelho respiratório ainda está em desenvolvimento, elas não possuem a proteção ideal da pele. Estas características as tornam mais sensíveis às doenças”, explica.

Para livrar os pequenos – e até mesmo você – de doenças a que estão mais suscetíveis no inverno e saber como enfrentá-las caso apareçam, o Delas tirou todas as dúvidas com diferentes especialistas das áreas da pediatria, pneumologia, dermatologia e oftalmologia. Descubra abaixo o que fazer para que o inverno não atrapalhe a sua vida.

Problemas: resfriado e gripe
Como no inverno as pessoas estão acostumadas a ficarem mais próximas umas das outras, o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que esta maior aglomeração também faz com que os vírus do resfriado e da gripe se espalhem com maior facilidade. “As pessoas espirram, tossem, passam a mão no nariz, tudo mais perto uma das outras”, explica o especialista. Por esta principal razão – e não pelo frio, como usualmente imaginamos – o resfriado e a gripe atingem maior número de pessoas nesta época. Mas elas são bem diferentes, a começar pelos sintomas.

Embora ambas as doenças sejam igualmente epidêmicas, o resfriado é muito menos invasivo e agressivo do que a gripe e, segundo o especialista, se concentra mais em incômodos na garganta e no nariz, como a coriza. “Já a gripe pode causar febre alta, dor de cabeça, dor muscular, e em crianças menores pode ocasionar também vômito e diarreia, além de tosse”, afirma Kirchenchtejn.

Além dos idosos, as crianças também são bastante afetadas, principalmente as que ainda não chegaram aos cinco anos de idade. “Elas ainda estão em desenvolvimento imunológico e o contato com outras crianças em creches e escolas colaboram para que sejam infectadas pelos vírus, que normalmente são benignos”, afirma. Segundo ele, a gripe pode causar mais complicações com infecções bacterianas, como a sinusite e a pneumonia, além de poder piorar o quadro de crianças com rinite e asma. Mas se for diagnosticada claramente e bem tratada, não há com o que se preocupar.

O que fazer: Para prevenir a gripe, o médico indica a vacinação – tanto contra a gripe comum quanto a H1N1. “Além disso, ter cuidados com a higienização das mãos antes de pegar as crianças e não deixá-las entrar em contato com alguém gripado ou resfriado é essencial”, diz. Porém, se não for possível escapar, procurar um pediatra ou um clínico geral ao menor indício da doença. Dependendo da idade da criança, é o mais indicado para que ela esteja curada entre três e sete dias, no máximo.

Problema: asma
Embora a asma seja uma doença crônica, ela pode se desencadear mais facilmente no inverno por culpa do ar mais seco, do frio e do aumento da poluição. Os sintomas incluem crises de tosse, catarro, chiado e falta de ar. Mas, antes dos dois anos de idade, o problema pode ser outro: a bronquiolite. “É uma infecção respiratória com sintomas parecidos aos da asma, que costuma ser diagnosticada por volta dos 24 meses da criança”, diz o especialista.

Segundo ele, os pais que já sabem do problema respiratório crônico do filho devem procurar ajuda antes que o inverno chegue de vez, por prevenção. “Além de serem vacinados contra a gripe, existem medicamentos que colaboram para que não haja problemas maiores”, explica. Mas, além disso, alguns cuidados devem ser tomados principalmente nesta estação: “Eles devem ficar longe de fumaça de cigarro, mofo e pó, os pais devem trocar a roupa de cama com maior frequência e, se possível, manter a umidade do ar adequada dentro de casa com um umidificador”.

O que fazer: Caso as medidas preventivas não evitem as crises asmáticas, que podem ser ocasionadas também por estresse emocional, é preciso levar a criança ao pronto-socorro mais próximo para ser atendida. No entanto, se a crise ocorrer mais de uma vez, agende uma visita ao pediatra ou ao pneumologista. “Os pais e a criança que já sabem como é o problema ganham a vantagem de reconhecer a chegada de uma crise e, com a orientação do médico, poderão se medicar sem ter que ir ao hospital”, diz.

Problemas: ressecamento da pele, dermatite e micose do couro cabeludo
Depois dos pulmões, a pele é outra candidata aos problemas de inverno. Todo mundo fica com a pele mais ressecada neste período e podem surgir coceiras antes inexistentes, até mesmo as crianças. No entanto, para quem tem a pele mais sensível e possui dermatite atópica – doença crônica da pele –, os sintomas acabam sendo piores: “A coceira fica mais forte e as lesões acabam ficando mais evidentes”, descreve a dermatologista Enilde Borges, também da Unifesp.

De acordo com a especialista, isto ocorre pelo ar mais seco e até mesmo pela temperatura mais baixa, mas os banhos usualmente quentes que tomamos nesta época também colaboram bastante para a piora da pele. “Água muito quente retira a oleosidade que precisamos ter”, explica Borges. Ela ainda lembra que este mesmo ressecamento da pele também ocorre no couro cabeludo, que pode sofrer descamação e coceira, ocasionando a caspa.

“A caspa, no entanto, ocorre mais em adultos. Quando ocorre descamação no couro cabeludo das crianças, pode ser também micose do couro cabeludo, que é mais frequente na infância”, comenta Borges. Mas atenção: este problema não ocorre mais especificamente no inverno e, por esta razão, ela indica que os pais procurem a ajuda de um especialista para diferir os problemas.
O que fazer: Além de evitar o uso de água muito quente na hora de tomar banho, o uso de secador de cabelo deve ser feito com muito cuidado. “Manter a pele com hidratantes neutros também é recomendado”, afirma. Mas somente se for neutro; os hidratantes com perfumes aumentam as chances de alergia. Se o problema permanecer ou se a criança já souber que possui dermatite atópica, Borges também indica a visita ao pediatra ou ao dermatologista.

Problema: conjuntivite alérgica
A conjuntivite virótica é normalmente um problema que compromete a saúde no verão, mas no inverno aumentam as possibilidades de sermos acometidos pela conjuntivite alérgica. O oftalmologista Luiz Carlos Portes, membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, explica que ela não é ocasionada necessariamente pelo frio, e sim pela poluição, pelo ácaro presente em ambientes mais fechados e também por agasalhos como os de lã, por exemplo, que podem favorecer o processo alérgico.
“Os sintomas são parecidos aos da conjuntivite virótica, com fotofobia (sensibilidade à luz), sensação de areia nos olhos, secreção, pálpebra inchada e coceira”, explica o especialista. Geralmente, este tipo de conjuntivite é um problema ligado às crianças que estão associadas a problemas alérgicos, como a asma ou a rinite, por exemplo. Diferente da conjuntivite virótica, que costuma atingir crianças somente a partir da idade escolar, a alérgica pode aparecer dependendo do ambiente em que a criança se situa.
O que fazer: O ideal, segundo o especialista, é procurar um médico para fazer o diagnóstico e utilizar um tratamento específico, dependendo de cada caso. No entanto, fazer compressas frias com soro fisiológico nos olhos pode ajudar bastante. “Se não melhorar em 48 horas, procure um pediatra ou um oftalmologista”, indica Portes.
Fonte: Renata Losso, especial para iG São Paulo

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